sábado, 9 de julho de 2011

O novo e a vida

MEU NOVO


Um novo prazo pra fazer as coisas já medidas, calculadas, planejadas.
Um novo modo de acordar sorrindo, depois de ter dormido muito mal.
Um novo volume para as conversas, que transforma tudo em confidência.
Um novo nível de cansaço, até semana passada impossível de imaginar.
Um novo ritmo pra vida, hoje não tão minha como costumava ser.

Mesmo quando a gente já se sente velho
e até um pouco sem jeito com a mudança,
a vida muda,
e nos empurra para experimentar o novo.

Novos olhares
Que cruzam com os meus,
Sem que eu tenha a menor idéia do que me dizem.
Mas gosto de imaginar que é:
“Larga de ser bobo pai, não chora!
Também te amo. Sujeito grande e mole...”
E depois faz um "humpf" de enfado,
e fecha os olhos pra dormir
pra eu poder chorar mais
sem me sentir tão tolo.

Novos sons, alguns lindos, outros irritantes.
Novos aromas, alguns deles bem pouco agradáveis.
Novos desejos, quase todos tão nobres, quase escondem os mais mesquinhos, mais egoístas.
Mas só quase.
Só posso mudar o que posso, não tudo que quero.

Novas tarefas,
novas alegrias,
novas preocupações,
quanta coisa nova!

Mas nada como
esse substantivo,
velho, gasto,
surrado mesmo,
e pra mim tão novo,
tão bom, até meio doce,
depois que encontrou
o pronome
que já não indica posse
mas consubstanciação: meu
filho!



Ao meu pai:

A MESA

            Carlos Drumonnd de Andrade.

(...) Por exemplo:
ali ao canto da mesa,
não por humilde, talvez
por ser o rei dos vaidosos
e se pelar por incômodas
posições de tipo gauche,
ali me vês tu. Que tal?
Fica tranqüilo: trabalho.
Afinal, a boa vida
ficou apenas: a vida
(e nem era assim tão boa
e nem se fez muito má).
Pois ele sou eu. Repara:
tenho todos os defeitos
que não farejei em ti,
E nem os tenho que tinhas,
quanto mais as qualidades.
Não importa: sou teu filho
como ser uma negativa
maneira de afirmar.
Lá que brigamos, brigamos
opa! Que não foi brinquedo,
mas os caminhos do amor,
só amor sabe trilhá-los.
Tão ralo prazer te dei,
nenhum, talvez... ou senão,
esperança de prazer,
É, pode ser que te desse
a neutra satisfação
de alguém sentir que seu filho,
de tão inútil, seria
sequer um sujeito ruim.
Não sou um sujeito ruim.
Descansa, se o suspeitavas,
mas não sou lá essas coisas.
Alguns afetos recortam
o meu coração chateado.
Se me chateio? demais.
Esse é meu mal. Não herdei
de ti essa balda.(...)