sábado, 23 de maio de 2015

Sobre o Amor da Vida

O que eu mais amo

O que eu mais amo
Cabe em tão pouco
E é tão tanto.
É grande,
Pequeno e
Pequeninho.
É respeito,
É amor,
É carinho.
O que eu mais amo
Não me deixa ser sozinho.

O que eu mais amo
Tem “Eu te amo” toda hora.
E tem sobrando
“Dormiu bem?”
“Que bonito!”,
“Que cheirosa!”
“Como foi seu dia?”
O que eu mais amo
Inunda a vida de alegria.

O que eu mais amo
Às vezes tem choro
E reclamação.
Mas o que o que eu mais amo tem mesmo
É abraço,
Beijo
E risada.
Kkkkkkkkkkk!
O que eu mais amo
É pra amar com gargalhada.

O que eu mais amo me ama também
E é lindo,
É graça,
É molho,
É sentido,
Faz sentido,
Dá sentido.
É força, amparo e abrigo.
O que eu mais amo
Vai pela vida comigo.



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sobre coisas em ordem

Prateleira

Já foi projeto,
E também vazia.

Fotografia
Impregnada de filosofia
Numa rede social.

Foi Radiografia
Das escolhas e prioridades,
Ou da ausência delas.
Foi assunto na terapia.

Uma trilha de migalhas,
de versos,
versículos,
piadas,
incisos,
realismo e poesia:
o tanto de histórias que cabe numa história só.

Hoje é exposição
com curadoria rigorosa
e segurança redobrada.
Nada fora do lugar.
À história lida enquanto é escrita
é que se chama consciência.

A poesia é quem mais cresce
As robustas antologias se aglomeram
Desafiando a advertência do manual de fábrica:
“dez quilos! Apenas dez quilos!”

Wali e Neruda gargalham,
Cora e Drumond me olham
e eu viro pro manual rindo:
Que dez quilos que nada!
Essa prateleira
e essa vida
suportam poesia
pra mais de tonelada”.




Tendo a Lua

 

Os Paralamas do Sucesso

 

Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim
O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo teus bilhetes, eu lembro do que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu
Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo teus bilhetes, eu lembro do que fiz
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Poesia

Onde anda a poesia?
Anda pela janela
E pelos seus ventos
Pela cozinha
E seus cheiros.
Pela varanda e sua vista.

Onde encontrar a Poesia?
No livro de Sônia
Com seu pé de alecrim,
Seu bichano
E seu amigo.
Nas tantas histórias que trago comigo,
Ouvidas nos degraus da vila
Do tio que já não as pode contar.

Onde esbarrar na poesia?
No metrô,
Na mãe e no filho,
Na praia deserta,
No sol,
Na espada, na pena.

Como guardar a poesia?
Espero descobrir um dia.




Cadê? - José Paulo Paes


do Blog http://versosdecrianca.blogspot.com.br/


Nossa! que escuro!
Cadê a luz?
Dedo apagou.
Cadê o dedo?
Entrou no nariz.
Cadê o nariz?
Dando um espirro.
Cadê o espirro?
Ficou no lenço.
Cadê o lenço?
Foi com a calça.
Cadê a calça?
No guarda- roupa.
Cadê o guarda-roupa?
Fechado à chave.
Cadê a chave?
Homem levou.
Cadê o homem?
Está dormindo
de luz apagada.
Nossa! que escuro!

terça-feira, 11 de junho de 2013

VAI PRA ONDE?

Quando eu chegar lá,
Vou querer rir das lembranças
E chorar as alegrias.

É bom se alegrar com a mão que,
delicada, desce pelas minhas costas,
afeto que sinto com o corpo.

E é bom ter um amigo bobo,
Especialista em histórias tolas
Que fazem a gente rir até a barriga doer.

E o abraço demorado,
Dos bracinhos pequeninos,
Seguido de um beijo molhado na bochecha,
Tem coisa melhor?

As palavras de estímulo,
Trazidas pela voz cansada
E por isso ainda mais terna.

Uma garfada generosa,
Da comida bem molhuda.

Um gole do vinho perfumado,
Sorvido sem pena da taça.

Dez minutos pra pensar,
Em porque eu sou assim,

Alguns anos pra achar
O que afinal fazer de mim.

Um som tão diferente
Que os dedos lutaram uma semana para produzir.

Um amor tão bom que não dá nem pra dizer.

Tantas memórias boas,
Quanto porvir.

Pois que venha!
Certamente não estarei preparado.

E despreparado assim,
Cruzarei a linha de chegada.
Não há de ser nada! Chegarei  lá feliz.
O mais importante eu já sei,
O caminho, como pude encontrei,
Mas o prêmio fui eu quem fiz.

terça-feira, 27 de março de 2012

De volta

Tropeço


No meio do caminho
Tinha uma pedra:
Eu tropecei nela,
Caí de frente,
Bati a cabeça
E esqueci o que eu ia escrever.





Dispersão

                        Mário de Sá-Carneiro

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
(...)

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobre o Ver

LABIRINTO

O que te impede?
A prova que vem
ou as que ficaram?

As dores do corpo,
as feridas da alma?
Seria a escassez
ou a abundância
que te detém?

O que te turva os olhos,
poeira ou lágrimas?
E não são ambas
Frutos do caminho?

Seria melhor não caminhar?

Pra além da poeira,
do choro,
haverás de encontrar
sorrisos, alguns até largos,
carinho,
consolo,
conforto,
redescobrindo o caminho,
comigo.


A MÁSCARA DA NOITE

               Vinícius de Moraes

Sim, essa tarde conhece todos os meus pensamentos
Todos os meus segredos e todos os meus patéticos anseios
Sob esse céu como uma visão azul de incenso
As estrelas são perfumes passados que me chegam...

Sim! essa tarde que eu não conheço é uma mulher que me chama
E eis que é uma cidade apenas, uma cidade dourada de astros
Aves, folhas silenciosas, sons perdidos em cores
Nuvens como velas abertas para o tempo...

Não sei, toda essa evocação perdida, toda essa música perdida
É como um pressentimento de inocência, como um apelo...
Mas para que buscar se a forma ficou no gesto esvanecida
E se a poesia ficou dormindo nos braços de outrora...

Como saber se é tarde, se haverá manhã para o crepúsculo
Nesse entorpecimento, neste filtro mágico de lágrimas?
Orvalho, orvalho! desce sobre os meus olhos, sobre o meu sexo
Faz-se surgir diamante dentro do sol!

Lembro-me!... como se fosse a hora da memória
Outras tardes, outras janelas, outras criaturas na alma
O olhar abandonado de um lago e o frêmito de um vento
Seios crescendo para o poente como salmos...

Oh, a doce tarde! Sobre mares de gelo ardentes de revérbero
Vagam placidamente navios fantásticos de prata
E em grandes castelos cor de ouro, anjos azuis serenos
Tangem sinos de cristal que vibram na imensa transparência!

Eu sinto que essa tarde está me vendo, que essa serenidade está me vendo
Que o momento da criação está me vendo neste instante doloroso de sossego em mim mesmo
Oh criação que estás me vendo, surge e beija-me os olhos
Afaga-me os cabelos, canta uma canção para eu dormir!

És bem tu, máscara da noite, com tua carne rósea
Com teus longos xales campestres e com teus cânticos
És bem tu! ouço teus faunos pontilhando as águas de sons de flautas
Em longas escalas cromáticas fragrantes...

Ah, meu verso tem palpitações dulcíssimas! - primaveras!
Sonhos bucólicos nunca sonhados pelo desespero
Visões de rios plácidos e matas adormecidas
Sobre o panorama crucificado e monstruoso dos telhados!

Por que vens, noite? por que não adormeces o teu crepe
Por que não te esvais - espectro - nesse perfume tenro de rosas?
Deixa que a tarde envolva eternamente a face dos deuses
Noite, dolorosa noite, misteriosa noite!

Oh tarde, máscara da noite, tu és a presciência
Só tu conheces e acolhes todos os meus pensamentos
O teu céu, a tua luz, a tua calma
São a palavra da morte e do sonho em mim!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre a Humanidade

METRÔ


Vi nos olhos do teu
Os olhos do meu
Sem saber se eram
Castanho claro
Castanho escuro
Ou só saudade.

Do meu filho,
Do teu filho.

E quis tê-lo no colo
E acalentar seu sono
Admirar seu rosto e
Acariciar-lhe as mãos
Pensando no amor que
tenho e que tens também.

Ao teu filho,
Ao meu filho.

O que as retinas uniram
Separará a vida?
Ou separarão
A cor, a classe, as chances?
As cruezas dessa vida vã,
As delícias dessa vida boa
Serão suficientes para unir

O meu filho
Ao teu filho?

Que de comum já tem
A nossa fragilidade
E a fome que temos
De pão e de afeto
De leite e carinho.
Tomara! Encontrar-se-ão
No caminho

O teu filho
E o meu filho.




Neste post, o poema – escatológico segundo a autora – da companheira e jornalista Paula Máiran.

Dentes contra dentes

a vida é um ranger de dentes, noite após noite,
dentes contra dentes
o tempo que passa pode ser medido pelas fissuras
pelas extremidades esfareladas dos dentes
pelas áreas escurecidas de fumo e tártaro
pelo sorriso retorcido por gengivas retraídas
inflamadas
sanguinolentas
e contra o tempo, nada
a não ser maquiagens
e pequenas cirurgias
medidas paliativas
mas nada detém o tempo
os rasgos na máscara de silicone antibruxismo
denunciam a violência do tempo gasto na eterna luta de dentes contra dentes