terça-feira, 21 de junho de 2011

O que é que tem?

OLHANDO BEM

Então o que tem
nas ruas do Centro
na praia remota
na cidade miúda
em Copacabana?

Então o que tem
no texto da peça
no tema do filme
no meio do livro
no fim do Poema?

Então o que tem
na farra do bloco
na forra da briga
na entrada da loja
na saída da missa?

Então o que tem
no vai e não volta
no vem por favor,
no chega aqui logo
no fica pra sempre?

Então o que tem
no sim de desejo
no não de coragem
na dúvida atroz
na dívida atrás?

Então o que tem
no grito de ajuda
no grito de gozo
no tapa nas costas
no tapa na cara?

Tem um pouco de mim
e um pouco do outro,
tem um tanto de encontro,
e outro tanto de dor.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobre o amor

MEU AMOR

Meu amor é inquietude
as vezes até incômodo
e quando me inquieta
é que me mexo,
e assim meu amor se faz jornada.

Meu amor é pedido
as vezes até súplica
e quando me pede,
é que respondo
e assim meu amor se faz escolha.

Meu amor é indecisão
as vezes até crise
e quando não decide
é que me aquieto,
e assim o meu amor se faz espera.

Meu amor é vem e para; é vai e fica.
Meu amor é volta aqui e também é não vai mais.

É carinho exigido,
afeto reivindicado,
amor inegociável,
paixão que não se apague...

É mansidão inflexível,
fazer incansável,
busca inextinguível, Ufa!
Meu amor não para!

Procurei tanto por um amor
quietude,
certeza,
tranqüilidade.
Ainda bem que não achei!
Posso viver sossegado,
o gostoso desassossego
que é o meu amor.

É bom ou ruim?
Quer meu amor saber
de tudo que faz,
de tudo que faço.

Não é bom nem ruim meu amor: é poesia.


AMOR

O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido.

                        *
Amor – eu disse- e floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim.
           
                        Carlos Drummond de Andrade.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sobre o tempo

O PASSEIO

Paisagens,
pessoas,
amores,
de todas as coisas que passam,
a que mais insiste em ficar
é o tempo.

Fica no colorido vivo da parede
que ele me fez reinventar
porque enjoou da antiga cor.

Fica na fibra da camisa
que era a minha preferida
e agora só serve pra dormir.

Fica no vaso sem flores,
saudoso das azaléias,
que ele, o tempo, levou.

Fica na saudade
da Vó Zefa e suas cantigas,
do Tio Aureliano e suas ferramentas,
Do meu amigo Buru,
até da Laika minha cã.

Fica nas lembranças
do que vivi e
do que não pude viver.

Fica nas dores do que eu não soube viver.

O tempo
quanto mais passa
mais fica.

Fica no canto dos meus olhos,
no canto da minha alma,
que às vezes é cantinho
e às vezes é cantar.



    XXXV

Não será a nossa vida um túnel
entre duas vagas claridades?

Ou não será uma claridade
entre dois triângulos escuros?

Ou não será a vida um peixe
preparado para ser pássaro?

A morte será de não ser
ou de substâncias perigosas?

                        Pablo Neruda

sábado, 4 de junho de 2011

Ainda sobre o caminho...

CAMINHADA

De quantos passos se faz um caminho?
De tantos quantos foram dados.
Se um pé não sucede ao outro,
o que os olhos contemplam a frente
pode ser rota, estrada, direção,
até descaminho pode ser.
Mas um caminho,
um caminho carece de passadas.
Trôpegas ou decididas, tanto faz!
Não é a firmeza dos pés
que faz a justeza do rumo.


Com atraso indesculpável, pelo qual insisto em pedir perdão, publico o belo poema com que meu amigo Antônio Alonso presenteou o blog, logo após o primeiro post:

(Título aguardando definição do autor)

Tempo-Vida-Poesia
Tempo Vida Poesia
TempoVidaPoesia
da Tempo Vi Poesia
Vida Tempoesia
Poesia Tem Vida pô
si (h)a Tempo Poe Vida
Si (h)a Vida Poe Tempo.........