segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre a Humanidade

METRÔ


Vi nos olhos do teu
Os olhos do meu
Sem saber se eram
Castanho claro
Castanho escuro
Ou só saudade.

Do meu filho,
Do teu filho.

E quis tê-lo no colo
E acalentar seu sono
Admirar seu rosto e
Acariciar-lhe as mãos
Pensando no amor que
tenho e que tens também.

Ao teu filho,
Ao meu filho.

O que as retinas uniram
Separará a vida?
Ou separarão
A cor, a classe, as chances?
As cruezas dessa vida vã,
As delícias dessa vida boa
Serão suficientes para unir

O meu filho
Ao teu filho?

Que de comum já tem
A nossa fragilidade
E a fome que temos
De pão e de afeto
De leite e carinho.
Tomara! Encontrar-se-ão
No caminho

O teu filho
E o meu filho.




Neste post, o poema – escatológico segundo a autora – da companheira e jornalista Paula Máiran.

Dentes contra dentes

a vida é um ranger de dentes, noite após noite,
dentes contra dentes
o tempo que passa pode ser medido pelas fissuras
pelas extremidades esfareladas dos dentes
pelas áreas escurecidas de fumo e tártaro
pelo sorriso retorcido por gengivas retraídas
inflamadas
sanguinolentas
e contra o tempo, nada
a não ser maquiagens
e pequenas cirurgias
medidas paliativas
mas nada detém o tempo
os rasgos na máscara de silicone antibruxismo
denunciam a violência do tempo gasto na eterna luta de dentes contra dentes

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